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Foto do escritorJACKSON SHELLA

A clínica Psicanalítica e o Afeto

Atualizado: 4 de jul. de 2023

No texto de hoje vamos abordar um tema presente ou não nas clínicas. Estamos falando da afetividade ao lidar com outro ser humano.

Esta sensibilidade é fundamental desde o primeiro contato pois temos diante de nós uma pessoa que está sentindo uma gama enorme de sensações e sentimentos que nem sempre conseguimos detectar de imediato. Esperança, medo, angústia são tão comuns como respirar nestes primeiros contatos, portanto a empatia deve ser uma ferramenta de uso diário do profissional que está disposto a ouvir.

A Afetividade é a capacidade que temos de afetar positiva ou negativamente outra pessoa seja com sensações internas ou externas. Poderíamos ate dizer que Freud definiu essa afetividade como a Transferência e Contratransferência. Vejamos o que exatamente isso significa para a clínica psicanalítica.

Podemos dizer que a transferência é um vínculo emocional que surge entre o paciente e o terapeuta, onde os sentimentos do paciente são direcionados ao terapeuta colocando este no lugar o objeto em questão. A contratransferência ocorre em sentido contrário do terapeuta para o paciente. Esta dinâmica é de fundamental importância para que o processo de análise ocorra de forma natural e as questões possam emergir das profundezas do inconsciente facilitando desta maneira o tratamento terapêutico.

O cuidado que devemos ter com outro ser humano ao tocar em temas que são de extrema importância para o mesmo deve ocorrer desde o primeiro momento. Na primeira conversa ao buscar um tratamento o paciente em geral esta muito ansioso, cheio de duvidas e ao recebe-lo devemos deixa-lo confortável, demonstrar que a sua queixa seja ela qual for é de fundamental importância, desta maneira começamos a passar um pouco de segurança ao mesmo para então fazermos uma anamnese do quadro clinico, entender a demanda, as relações, nível cultural e social, pois se atropelarmos essas etapas corremos um grande risco de não nos colocar no lugar do outro e o vinculo afetivo certamente será prejudicado.

Com as situações anteriormente expostas ficam evidentes os grandes desafios envolvendo a relação paciente e terapeuta, tendo este que romper com barreiras próprias iniciando pela questão de formação teórica, a identificação somática em seu próprio corpo das transferências que recebe e habilidade em lidar com as contratransferências.

O psicanalista deve estar com seu ego fortalecido para evitar de cair nas armadilhas do seu próprio inconsciente como experienciado por Carl j. Young que se deixou envolver pela sedução da paciente e desejos íntimos. Eis aqui o que considero o maior desafio na clínica psicanalítica, a tendência do terapeuta se envolver com a historia narrada e o afeto que deveria ser uma alicerce para dar segurança ao analisando tomar outras proporções, pois assim como o analisando o terapeuta também possui suas angustias, desejos e impulsos, logo ao mesmo tempo que devemos acolher e abraçar afetivamente o pacientes no sentido figurado do abraço.

A afetividade deve constar inclusive registro da anamnese, o mesmo deve ser elaborado para captar as necessidades de que está em busca do tratamento porem de maneira sutil sem que este pareça um grande interrogatório investigativo.

E na entrevista para se averiguar se o paciente é passível de analise que ele também ira avaliar se o terapeuta é adequado e confiável, de novo o paciente precisa sentir-se seguro de que suas informações serão mantidas sob um rigoroso preceito de privacidade e de que ele não será julgado, por olhares ou gestos, devemos recordar que este é um momento tenso para quem está aflito, então basta um olhar ou um leve sorriso para quebrar este momento onde ambos estão iniciando uma relação de longo prazo.

Neste caso é fundamental para o profissional bem qualificado, tenha condições de identificar de forma precisa como e qual o vínculo que está sendo formado durante esse processo, e de posse deste conhecimento podemos então conter alguns afetos para que o paciente receba-o de forma a tirar o maior proveito possível.

O processo de vínculo afetivo é interminável e ira passar por diversas fases ao longo do tratamento, sendo uma via de maio dupla e em constante mutação em virtude do momento vivenciado, logo o par analítico estará sempre em uma troca de afetividade sendo que desta maneira será possível a todo instante se questionar quanto ao processo se está ou não sendo saudável para ambas as partes.

Não devemos temer em concluir que determinado par analítico, ou seja, psicanalista x paciente podem não ter um vinculo e que o processo não trará benefícios, seja porque o terapeuta não se considera apto para o caso ou porque o paciente não tem um sentimento que o leve a confiar inteiramente no profissional, nesse caso devemos com conhecimento de causa reconhecer que o par não é analisável e um ajuste nesta parceria deve ser realizada em prol de um bem maior que é o benefício ao analisando.

Então para concluirmos o tema, devemos ser humildes o suficiente para saber quando assumir ou não um caso, reconhecer que o primeiro contato é fundamental para o vinculo afetivo e que afeto neste contexto é empatia.


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