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Foto do escritorJACKSON SHELLA

A Importância da Autoestima para a Saúde Mental Segundo a Psicanálise

Resumo: Este artigo visa explorar a importância da autoestima para a saúde mental à luz da psicanálise. Com base nas teorias de Sigmund Freud e seus seguidores, discutiremos como a autoestima se forma e seu impacto no bem-estar psicológico. Além disso, analisaremos a abordagem psicanalítica para tratar problemas de autoestima, ressaltando a relevância deste conceito para a psicanálise contemporânea.

Palavras-chave: Autoestima, Psicanálise, Saúde Mental, Freud, Bem-estar Psicológico.

1. Introdução

A autoestima é um conceito central para a compreensão da saúde mental. Ela refere-se ao valor que um indivíduo atribui a si mesmo, influenciando diretamente seu comportamento e emoções. Na perspectiva psicanalítica, a autoestima está intrinsecamente ligada ao desenvolvimento psicossexual e à estruturação do ego. Este artigo pretende discutir a importância da autoestima para a saúde mental segundo a psicanálise, utilizando como referência o "Manual de Técnica Psicanalítica" de David Zimerman.

2. Definição de Autoestima na Psicanálise

Segundo Freud, a autoestima está relacionada ao desenvolvimento do ego e à internalização das figuras parentais durante as fases do desenvolvimento psicossexual. A forma como os pais e cuidadores interagem com a criança pode influenciar significativamente a formação da autoestima. Quando essas interações são positivas, a criança tende a desenvolver uma autoestima saudável, enquanto interações negativas podem resultar em baixa autoestima e consequentes problemas psicológicos.

Freud introduziu o conceito de "narcisismo" como uma fase crucial do desenvolvimento infantil, onde a autoestima começa a se formar. Nessa fase, o amor próprio é essencial para a construção de um ego forte e saudável. A autoestima, ou sentimento de valor pessoal, é fortalecida quando a criança percebe que é amada e valorizada pelos pais. Este reconhecimento externo é internalizado, formando a base da autoestima.

Kohut, outro teórico psicanalítico, expandiu a compreensão do narcisismo, introduzindo o conceito de "narcisismo saudável". Segundo Kohut, uma autoestima equilibrada é fundamental para o desenvolvimento de um self coeso. Ele argumenta que a falha em atender às necessidades narcisistas da criança pode resultar em um self fragmentado e em problemas de autoestima na vida adulta.

3. A Formação da Autoestima

Na teoria freudiana, o ego é formado a partir das experiências da criança com o mundo externo e os objetos de amor, principalmente os pais. O olhar e a aceitação dos pais são fundamentais para o desenvolvimento da autoestima. Winnicott, um dos seguidores de Freud, destacou a importância do "ambiente suficientemente bom" para o desenvolvimento saudável do self. O reconhecimento e a validação pelos pais ajudam a construir um senso de valor pessoal na criança.

Winnicott introduziu o conceito de "mãe suficientemente boa", que descreve um ambiente onde a mãe (ou cuidador) responde de maneira adequada e consistente às necessidades do bebê. Este ambiente facilita a formação de um self verdadeiro e uma autoestima saudável. Quando a mãe é capaz de espelhar as emoções do bebê e validar suas experiências, o bebê internaliza essas respostas positivas, fortalecendo sua autoestima.

Além disso, Winnicott discutiu a importância do "espaço potencial", um ambiente intermediário onde a criança pode explorar e expressar seu self verdadeiro. Este espaço é crucial para o desenvolvimento da criatividade e da autoestima, permitindo que a criança se sinta segura para experimentar e crescer.

4. Impacto da Autoestima na Saúde Mental

A autoestima tem um impacto significativo na saúde mental. Uma autoestima elevada está associada a um maior bem-estar psicológico, resiliência ao estresse e uma melhor capacidade de lidar com adversidades. Por outro lado, baixa autoestima pode levar a uma série de problemas psicológicos, incluindo depressão, ansiedade e transtornos de personalidade.

Estudos psicanalíticos indicam que a autoestima influencia a maneira como os indivíduos percebem e respondem às experiências da vida. Indivíduos com alta autoestima tendem a ter uma visão mais positiva de si mesmos e do mundo ao seu redor, o que lhes permite enfrentar desafios com mais confiança. Eles são mais propensos a estabelecer relações saudáveis e a buscar e atingir seus objetivos.

Por outro lado, indivíduos com baixa autoestima frequentemente têm uma visão negativa de si mesmos e do mundo, o que pode levar a sentimentos de desesperança e inadequação. Esses sentimentos podem contribuir para o desenvolvimento de transtornos depressivos e ansiosos. A baixa autoestima também pode resultar em comportamentos autodestrutivos e em dificuldades na formação de relacionamentos saudáveis.

5. A Perspectiva Psicanalítica sobre Problemas de Autoestima

A psicanálise aborda problemas de autoestima investigando os conflitos inconscientes e as experiências precoces que podem ter contribuído para a baixa autoestima. O setting analítico proporciona um espaço seguro onde o paciente pode explorar suas inseguranças e experiências passadas. Através da transferência e contratransferência, o analista ajuda o paciente a ressignificar suas experiências e desenvolver uma autoestima mais saudável.

Freud destacou a importância da análise dos sonhos, atos falhos e lapsos na compreensão dos conflitos inconscientes que afetam a autoestima. A técnica psicanalítica permite que o paciente revele e trabalhe através de sentimentos reprimidos e memórias dolorosas que impactam sua autoestima.

Melanie Klein, outra teórica psicanalítica, enfatizou a importância da fantasia inconsciente na formação da autoestima. Segundo Klein, as fantasias inconscientes sobre os objetos internos (figuras parentais internalizadas) podem influenciar significativamente a autoestima. A análise dessas fantasias permite ao paciente entender e modificar suas percepções internas, promovendo uma autoestima mais saudável.

A terapia psicanalítica também utiliza a técnica de "interpretação" para ajudar os pacientes a entenderem a origem de seus sentimentos de inadequação e baixa autoestima. Ao trazer à consciência os conflitos inconscientes, o analista facilita a resolução desses conflitos, promovendo o crescimento pessoal e o fortalecimento da autoestima.

6. Conclusão

A autoestima é um componente crucial da saúde mental e um conceito fundamental na psicanálise. Compreender sua formação e impacto permite uma abordagem mais eficaz no tratamento de problemas psicológicos. A psicanálise oferece ferramentas valiosas para ajudar indivíduos a reconstruir sua autoestima e alcançar um maior bem-estar psicológico.

Referências

ZIMERMAN, David E. Manual de técnica psicanalítica: uma re-visão. Porto Alegre: Artmed, 2008.

FREUD, Sigmund. Introdução ao Narcisismo. In: Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1974.

KOHUT, Heinz. The Analysis of the Self: A Systematic Approach to the Psychoanalytic Treatment of Narcissistic Personality Disorders. New York: International Universities Press, 1971.

WINNICOTT, Donald W. O Ambiente e os Processos de Maturação: Estudos sobre a Teoria do Desenvolvimento Emocional. Porto Alegre: Artmed, 1983.



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